junho 25, 2014

No contact

Wi-fi em bares. Em festas. 

Celulares nos bolsos. Nas bolsas. Nas mãos. Nos rostos. 

Olhares. Olhar na tela. 

Tocar. Touch Screen. 

O normal é ser absorvido pela matéria. O bizarro, hoje, é ainda querer contato. Contato de outro ser que pulsa. Que respira. Que sente. 

O contato entre dois, ou mais, seres pensantes e sensíveis parece ter se tornado inviável. 

Agora lhe resta saber conviver consigo mesmo e com um objeto. Se algo lhe frustrar você não terá que lidar com isso pessoalmente. 

Ao mundo real você já não mais pertence, mas para despertar é simples. 

Basta desligar. 

Ou ficar sem bateria.

janeiro 08, 2014

Migalhas

Como é que eu pude me enganar tanto? Mentir pra mim mesma descaradamente, impiedosamente. Como pude encobrir as verdades? Fui cega, ingênua, tosca. Não quis aceitar o que estava claro desde o início. Indícios da realidade triste e solitária sempre estiveram diante dos meus olhos, mas eu preferi acreditar em uma felicidade escondida. Suposta felicidade. Na verdade era o sofrimento usando um disfarce, me espreitando como sempre. É a forma mais miserável de ferir alguém. Oferecendo antes, a falsa ideia de contentamento. Mas eu não poderia me iludir pra sempre.

Finalmente consigo enxergar com clareza os motivos pelos quais eu vivi de enganos. Eu tinha esperanças. Agora, a vontade mais sincera que tenho é atribuir a mim adjetivos cruéis. É a forma que encontro para fazer com que eu me ouça. Estúpida. Insegura. Descartável. Covarde. Quero me ouvir. Quero aprender. Quero me reencontrar.

Reencontrar. Se é que algum dia já me encontrei. Eu sou eu agora? Eu fui eu antes de você? Eu fui eu com você? Sou? Já fui? Serei?

Não estou interessada em mim e eu não sei até quando isso vai durar. Redescobrir o prazer das coisas pode levar tempo. Quando algo que antes te fazia bem te destrói, fica difícil não pensar que será assim sempre, que eu posso continuar tentando, mas um final impiedoso, cedo ou tarde, virá ao meu encontro.

Escutar o toque do despertador e ter vontade de existir. Ir pra rua e sentir que faço parte de tudo isso, que eu valho a pena. Venho apenas suportando os dias, esperando que eles passem e que levem com ele tudo de ruim que há em mim, mas eles não levam. Os dias passam, os dias são outros, mas eu continuo a mesma.

Eu estive vivendo de migalhas. De resto. De pó. De nada. De uma companhia que era só ausência. De um carinho que era só carência. De palavras que só eram ditas pra quebrar o silêncio incômodo.

janeiro 01, 2014

Sobre 2013: um ano de (quase) nada

Quando chega essa época parece inevitável parar para pensar no que foi e fazer alguns planos para o ano que inicia. Algumas semanas atrás, quando parei pra pensar no meu 2013 me veio o seguinte pensamento: foi um ano vazio. Revivendo os dias em minha cabeça, tentei lembrar de um dia muito bom, alguma realização, algum sonho realizado, uma meta alcançada e, bem... não consegui pensar em nada. A princípio, em uma tentativa de fazer com que eu não enxergasse essa verdade que machuca, tentei pensar que "isso é culpa da minha memória que não é tão boa". Mas não, claro que não. Eu fui capaz de encher os meus dias de nada. Eu abri mão de mim e de tudo ao longo desses 365 dias.

Pode soar como exagero ou como um pessimismo barato e antes fosse. Mas é verdade que eu deixei os dias correrem e não tentei fazer nada por mim, nada por ninguém, nada por nada. Era da casa pra faculdade e da faculdade pra casa. E em casa? Cama. Não me dediquei, não corri atrás, não sonhei, não tentei fazer acontecer. Não é de se espantar que meu ano tenha sido um grande (quase) nada.

O uso do "quase" é necessário. 2013 me trouxe algo sim, mas ainda não sei dizer se é bom ou ruim. Talvez tenha sido os dois, ao mesmo tempo. Na maioria das vezes tendo a pensar que foi ruim, mas não acho justo. As partes ruins, geralmente, são mais marcantes, então fica a impressão de que, na verdade, não foi algo bom. Mas existiram momentos bons sim, infelizmente. Digo infelizmente porque se tivesse sido verdadeiramente ruim, talvez eu já tivesse superado. Mas aqueles poucos momentos que senti que fui feliz (ou que seria dali em diante) insistem em permanecer na minha memória.

Para 2014 até estabeleci algumas metas, coisa que não fazia há anos. Há tempos não olhava para um novo ano esperando recomeços e fazendo planos. Considerava bobagem e julgava extremamente desnecessário. Talvez eu precise disso. Algum incentivo. Metas, mesmo que não tão ambiciosas, mas que me coloquem pra viver novamente. Sinto que não vivi nesse ano que passou. Mesmo quando pensei estar fazendo alguma coisa, era vazio. Cheio da falta de sentimentos, cheio da falta de amor, cheio da falta de verdade.

O que marcou 2013 foi o imenso vazio que o preencheu. Então, adeus. Espero que o meu não agir tenha ido embora com você.